sábado, 12 de março de 2011

Nu

Ao contrário do senhor, eu fui visto nos últimos dias, mas tal qual o senhor, não estive presente. Era apenas um vulto que aparecia e desaparecia sem mais.

Se estava vestido? A nudez é muito mais poética. Pergunta-me se alijei dos trapos em nome do amor.

Respondo que sim, seguirei orgulhoso, com a manta dos olhares desejosos, desdenhosos, ou desairosos, que me cobrirão.

Hão de gritar "O REI ESTÁ NU!" e ainda assim terá sido um julgamento falho. Lá não haverá nenhum rei. Quando se derem conta disso, perceberão que estavam nus, eles também. Não de suas vestes, mas de seus pensamentos, preconceitos, pudores e ardores indizíveis.

terça-feira, 8 de março de 2011

Rua Augusta dos Anjos (Versão de Mosiah J. S. Matos)

Tão nobre de nome e vestes
quase na Europa esquece
de teus carros e elegância vendidos.

Augusta, Augusta! És luxuosa...
Vitrine de vestidos raros vários,
admiração constante após meio-dia.
- Por ti passo, Augusta.

Do seu alto, vejo sua alegria.
Movimentos rápidos, oscilantes.
Andares de passante palpitante
com gritos de buzina, fugitiva.

Os perdidos ondulantes de copos
As púpilas dilatadas em vitrines
Os loucos diletantes delirantes
barganham os mercadores de prazeres e perfumes.

Angústia, Augusta! São tuas filhas
que olham o vestido no vidro e nelas
se despindo. Augusta, Angústia.
Morbidez voluptuosa no fim.

Teu caminho é sem Angélica.
Tu não cruzas as ruas da Consolação
E muito menos do Paraíso, Augusta.

domingo, 6 de março de 2011

Rua Augusta dos Anjos

Sem o sol
Centenas de olhos aos pares
Dispostos, sabem quanto custa
Vagam procurando imprecisos
Noutro par a própria visão

Refletidos, rutilantes
De pupilas dilatadas
Por pupilas diletantes
De músicas respiradas
Por eventuais amantes

Sensual
Anjos seduzem mortais
Para o céu da baixa Augusta
Que não cruza o Paraíso
Tampouco a Consolação