segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cronologia de um tempo que não existiu

Resta um rastro,
Espectro no relógio,
Mensagens, memórias e um livro emprestado.

As flores não nasceram,
Mas sorriem, dolentes, ao léu
Ou a mim

Não varrerei o pé do Ipê
O vento levou as pétalas do tempo
E ele voou

Talvez eu ensurdeça
Retumbante é o som da tumba onde jaz a poesia
E o porvir

sábado, 2 de julho de 2011

Silêncio etéreo

Constrangido, confesso

Silêncio eterno
Palavras pungentes
São meu grande amor

A eles me apego

Sem eles não sou

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Entre palavras

Um a um, os meus amores me deixaram.
E só agora pude entender...
as palavras ditas esfarelam pelo ar,
Eterno é o silêncio calado entre palavras...

Correntes

Saudosa saudade!
 
3:27 da manhã. Deveras, não há melhor ocasião para reescrever as linhas tortas da vida. Escrevo como quem confessa ao papel as verdades mais nuas. Alijo de mim a angústia dos  volúveis disfarces das autênticas mentiras. Desfaçatez. Ímpeto. Cinismo. A velha face do poeta!
 
                        Correntes                              
                                                      
 
Uma flor murcha de papel  ao deus dará das brisas noturnas...
Nu!
           Nu diante do orvalho das lágrimas,
 
Nu diante do tempo...
         
       Nu ensimesmado...                      no Vento...
                                             
 
 
 
 
 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Confissões

Janelas com vistas pra fossa
Monocromo em escala ascendente

Palidez oprimida de um sol
Sem reflexo na retina
Dos olhos castanhos

Polidez reprimida de um só
Circunflexo à rotina
Dos modos estranhos

Faca cega pena branca rosa vermelha




Escarlate




Como o pomo em fala demente
Na cela simplista de bossa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Medo é amor

Ri fêmea, sofre safa,
vendo a verdade da vertigem
Sede de amar, cede em falar
Florece em sabor, se aflige em saber

Ainda que não aceite
A vinda de um sentimento,
Fica em virginal deleite,
Valida do olhar atento

Âmago de meu sorriso
Tolo eu sei, pagão, vulgar
Sinto um fulgor impreciso
Já começo a crepitar

Temes o fogo, foge
Deixando fragrancia no ar
E lânguida ao vento fulgura
Sonhando afagos em fugaz ternura.

domingo, 3 de abril de 2011

Revisionismo

Bélicos paises do eixo
Nunca teriam guerreado
Se conhecessem o desejo
De um casal apaixonado
Levado ao primeiro beijo





Me sinto a cada dia mais oswaldiano, com esses poemas-pílula. Preciso voltar à idéia de caderno, para controlar melhor os lances de dados... Mas confesso que aprecio o acaso.

sábado, 12 de março de 2011

Nu

Ao contrário do senhor, eu fui visto nos últimos dias, mas tal qual o senhor, não estive presente. Era apenas um vulto que aparecia e desaparecia sem mais.

Se estava vestido? A nudez é muito mais poética. Pergunta-me se alijei dos trapos em nome do amor.

Respondo que sim, seguirei orgulhoso, com a manta dos olhares desejosos, desdenhosos, ou desairosos, que me cobrirão.

Hão de gritar "O REI ESTÁ NU!" e ainda assim terá sido um julgamento falho. Lá não haverá nenhum rei. Quando se derem conta disso, perceberão que estavam nus, eles também. Não de suas vestes, mas de seus pensamentos, preconceitos, pudores e ardores indizíveis.

terça-feira, 8 de março de 2011

Rua Augusta dos Anjos (Versão de Mosiah J. S. Matos)

Tão nobre de nome e vestes
quase na Europa esquece
de teus carros e elegância vendidos.

Augusta, Augusta! És luxuosa...
Vitrine de vestidos raros vários,
admiração constante após meio-dia.
- Por ti passo, Augusta.

Do seu alto, vejo sua alegria.
Movimentos rápidos, oscilantes.
Andares de passante palpitante
com gritos de buzina, fugitiva.

Os perdidos ondulantes de copos
As púpilas dilatadas em vitrines
Os loucos diletantes delirantes
barganham os mercadores de prazeres e perfumes.

Angústia, Augusta! São tuas filhas
que olham o vestido no vidro e nelas
se despindo. Augusta, Angústia.
Morbidez voluptuosa no fim.

Teu caminho é sem Angélica.
Tu não cruzas as ruas da Consolação
E muito menos do Paraíso, Augusta.

domingo, 6 de março de 2011

Rua Augusta dos Anjos

Sem o sol
Centenas de olhos aos pares
Dispostos, sabem quanto custa
Vagam procurando imprecisos
Noutro par a própria visão

Refletidos, rutilantes
De pupilas dilatadas
Por pupilas diletantes
De músicas respiradas
Por eventuais amantes

Sensual
Anjos seduzem mortais
Para o céu da baixa Augusta
Que não cruza o Paraíso
Tampouco a Consolação